A unção é um mistério. Cristo, do grego χριστός (khristós), significa ungido. Por isso, no começo do cristianismo, dizia-se cristão, não propriamente aquele que “seguia” a Cristo. Na verdade, muitos “seguiram” Jesus: Judas e toda uma multidão que depois pediu a sua crucificação. No princípio do cristianismo, dizia-se cristão, quem participava da unção de Cristo. Neste sentido, já no século III, São Cirilo, Bispo de Jerusalém, afirmava aos recém-batizados e crismados: “Feitos, pois, partícipes de Cristo, não sem razão, sois chamados cristos (...) vós vos tornastes cristos (...)”. Antes dele ainda, no século II, São Teófilo, Bispo de Antioquia, explicava a um pagão: “Nós nos chamamos cristãos porque nos ungimos com o óleo de Deus” . A bem da verdade, os cristãos não recebem uma unção diversa da de Cristo. Eles participam da Unção do próprio Cristo. Tentemos entender este pensamento dos primeiros padres. O Salmo 133 (132) fala de como é bom a irmãos viverem juntos. E quando quer descrever esta união, fá-lo da seguinte forma: “É como óleo fino sobre a cabeça, descendo pela barba, a barba de Aarão, descendo sobre a gola de suas vestes” (Sl 133 [132], 2). Pois bem, Orígenes, grande escritor cristão que viveu no século III, aproveitando este Salmo, afirma que o cristianismo nasce da unção que desce de Cristo Cabeça para o seu Corpo, constituindo-o e vivificando-o, enquanto pelo “bom odor” (II Cor 2, 15) desta unção, pelo “seu perfume” (II Cor 2, 14), torna agradável aos irmãos viverem juntos:
Por isso, sendo Cristo ‘cabeça da Igreja’ (Cl 1, 18), a ponto de Cristo e a Igreja formarem um só corpo, o ‘óleo fino derramado sobre a cabeça’, desceu ‘pela barba, a barba de Aarão’, tipo do homem perfeito, e este óleo chegou descendo ‘sobre a gola de suas vestes’ (Sl 133, 2).